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A memória que se tece: o Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea (1980 – 2000)

A arte têxtil — que tem por base o uso da fibra, podendo incluir o tear, trançados, tramados, bordados e rendas — ganha destaque no Rio Grande do Sul em função da sua significativa produção de lã somada à diversidade cultural gerada pela influência de povos originários, missioneiros, espanhóis, açorianos, afrodescendentes, alemães, italianos e poloneses. O têxtil foi se desenvolvendo no Estado, mas relegado a um status inferior no sistema da arte por ser uma prática ligada às artes decorativas e encarada como um conhecimento feminino e, por isso, um “saber menor”.

Houve, contudo, uma transformação na definição do têxtil a partir da metade do século XX conhecida como Nova Tapeçaria. Nomes como os de Jean Lurçat (França, 1892 – 1966), Magdalena Abakanowicz (Polônia, 1930 – 2017), Jagoda Buic (Iugoslávia, 1930), Sheila Hicks (EUA, 1934), Moik Schiele (Suíça, 1938 – 1993), Genaro de Carvalho (Bahia, 1926 – 1971), Jacques Douchez (França, 1921 - São Paulo, 2012) e Noberto Nicola (São Paulo, 1931 – 2007); entre outros, revelam artistas importantes — nacionais e internacionais — que buscaram uma autonomia do têxtil e deram renovada visibilidade a esse antigo suporte artístico.

Na década de 1980, impulsionadas por essas questões e desafios, um grupo de mulheres se reuniu e criou o Centro Gaúcho da Tapeçaria Contemporânea (CGTC), com o objetivo de “promover e incrementar a arte da tapeçaria”, estimulando assim a produção do fazer têxtil local, bem como sua legitimação. O que poderia parecer apenas um encontro para a produção e troca de ideias e técnicas sobre o tear, acabou se tornando uma associação que incentivava o estudo do tecer através de cursos dados por professores convidados, trocas com outros países – principalmente Argentina e Uruguai – e realização de diversas exposições no Brasil e no exterior, de modo que o CGTC deu sobrevida ao têxtil no RS e às suas soluções, pois cada artista criou sua linguagem peculiar e inusitada.

A mostra é resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em História da Arte de Carolina Bouvie Grippa, sob orientação da Profª Joana Bosak, contando com a colaboração da Bacharela em História da Arte Andressa Gerlach Borba e da acadêmica Luiza Villamil de Araújo, através de um esforço maior em torno do projeto de extensão intitulado “Memória Têxtil do Rio Grande do Sul".

Ao pesquisarmos a história do CGTC percebemos o imenso engajamento das associadas com a manutenção dos saberes ligados ao fazer têxtil. Expor ao grande público a produção de 24 associadas — do total de mais de 200 que chegou — realizada durante o período de existência do grupo, de 1980 a 2000, tornou-se, portanto, imperativo. A cada obra uma solução nova, um material descoberto, uma técnica diferente aprendida; demonstrando a versatilidade e abrangência do têxtil. E, em cada artista, uma nova história, uma nova poética e uma memória a ser recordada e recontada.

Organização: Andressa Borba, Carolina Bouvie Grippa, Joana Bosak, Luiza Villamil de Castro

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