Tessituras circulares: um resgate da arte têxtil de Ana Norogrando
Curadoria: Silvana Boone
A exposição Tessituras circulares: um resgate da arte têxtil de Ana Norogrando traz à Galeria de Artes do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul uma das mais importantes artistas gaúchas. Sua trajetória, em cerca de cinco décadas como artista e professora a torna uma referência para a arte contemporânea gaúcha.
Esta exposição, especificamente, faz um resgate da produção têxtil da artista nos anos 1980/90, numa época em que a o têxtil ainda era objeto questionado na arte. Conforme a curadora Silvana Boone, “O termo têxtil comumente é associado a materiais maleáveis, moles, tecidos e vestidos, e pode-se dizer que durante muito tempo esteve mais vinculado à esfera artesanal do que da arte contemporânea. Não adentrando nas diferenças e longe de promover um debate acerca da natureza fim de cada uma dessas esferas, a obra de têxtil de Ana Norogrando não se propõe ao contexto utilitário e por si só, afasta-se de qualquer possibilidade de associação ao fazer artesanal. Sendo as ações de tecer e tramar consideradas atividades femininas desde a antiguidade, também coube à literatura a atribuição do caráter simbólico de tais ações”.
A artista esteve na Universidade de Caxias do Sul em 1992, na antiga Galeria de Arte da Biblioteca Central, dividindo o protagonismo com outros quatro artistas gaúcho. Conforme o texto da curadoria, “Desde então, consolidou uma trajetória como artista/professora/pesquisadora. A exposição, conforme seu título, vem resgatar pontualmente as tessituras circulares têxteis metálicas de Ana Norogrando, pensadas e construídas no movimento, na ação do tempo e que pode ser traduzido nas mais diversas formas simbólicas que o círculo emana, bem como vem desvelar, após mais de três décadas da sua concepção, nos anos 80 e 90, uma história que queremos apresentar ao público e especialmente aos nossos estudantes, já que na sua essência, a arte, conecta-se ao design, à moda e aos inúmeros conceitos interdisciplinares que envolvem a materialidade, a sustentabilidade, e as relações entre o fazer da mão e das tecnologias”.
Importante destacar que as obras em exposição buscam trazer os referidos conceitos para os estudantes do Campus 8 e do público em geral, tendo “o pioneirismo de Norogrando, no final dos anos 1970” como “ ponto de partida e vem reverberar na consolidação de uma linguagem ancestral que hoje passa a ter maior visibilidade e valor no universo da arte. À sua maneira, Norogrando dialogava com as mudanças acerca do objeto tridimensional descaracterizando o que nos acostumamos a chamar de escultura, rompendo com as definições pré-concebidas entre o objeto escultórico e a ideia bidimensional daquilo que até então, era entendido como têxtil”.
A exposição consiste em um conjunto de 12 obras escultóricas em fibra metálica galvaniza, cobre e outros metais, que estarão expostas na Galeria de Arte do Campus 8 da UCS de 8 de março a 6 de abril de 2023. A artista fará uma conversa sobre seu trabalho no dia 8, às 20 horas, no Auditório Marelli do Campus 8.
Em parceria com o Sky Samuara, uma das esculturas têxteis de Ana Norogrando estará em exposição no espaço cultural vizinho do Campus 8, contribuindo para a divulgação da exposição.
ANA NOROGRANDO (Cachoeira do Sul, 1951) reside e trabalha em Porto Alegre, RS. Desenvolve projetos em escultura, objetos e videoinstalação. Lecionou?no Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria. A artista realizou projetos de pesquisa em arte junto às Terras e Comunidades Indígenas Kaingang do sul do país, na comunidade da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre, RS e pelas águas da ria em Aveiro, Portugal. Possui obras em inúmeros acervos públicos e coleções particulares. Realizou inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e exterior, tais como Sobre as Águas no MAC/RS, em 2011, Sincronias na Sala Janete Costa/PE em 2013, a retrospectiva Ana Norogrando - Obras 1968-2013 no MARGS/RS em 2013, Corpos e Partes na Fundação Badesc/ SC em 2016, Corpos de Fábrica: Obras 2016 – 2017 no Museu Oscar Niemeyer/ PR em 2017 e Coreografia de Sombras na Galeria Morgados da Pedricosa/ Aveiro/PT em 2021. Participou de importantes exposições coletivas como a 10a Bienal do Mercosul – Mensagens de Uma Nova América em 2014, Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira em 2017, Fora das Sombras no Museu Oscar Niemeyer em 2022 e Trama na Fundação Iberê Camargo em 2022.
SILVANA BOONE (Caxias do Sul, 1967) é Doutora em Artes Visuais pelo PPGAVI da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Especialista em Artes Visuais pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Licenciada em Educação Artística (UCS). Professora e pesquisadora na Universidade de Caxias do Sul desde 1995, curadora e crítica de arte.